Como encara a sua rotina em vários partidos políticos?
(MN) – Apenas fui membro efectivo da UPA/FNLA. Em Matadi (RDC), tentei entrar no MPLA mas logo que entrei em Angola, em 1978, mais precisamente na aldeia de Mingiengie, no município do Noki, fui agredido na presença da minha esposa, pelos elementos da ODP (Organização de Defesa Popular), que me injuriaram de ser um zairense, lacaio do imperialismo yankee, da UPA, etc. Fiquei muito perturbado, pois, os que me injuriaram não aceitavam a luta pela independência de Angola. Consideravam-se ser bamboma, uma tribo existente só na República do Zaire, diziam que a independência de Angola era dos basolongo. A mesma política de rejeitar os filhos verdadeiros de Angola, considerando-os de zairenses, encontrei em toda a parte de Angola. Considero como inadmissível que me considera estrangeiro na pátria dos meus antepassados. A parte que alberga a capital do Wene wa Kongo (Reino ou Império do Kongo), Mbanza Kongo, faz parte da actual Angola. Considerar um neto de Mpetelo Mbambi, membro de algumas dinastias do Reino do Kongo (Miala mia Nzinga e Ntumba a Mvemba) é um acontecimento abominável.
Na UNITA, eu sou assessor do senhor Presidente, Isaías Samakuva, a convite deste. Gosto de trabalhar com Samakuva. Ele é um homem amável, humanista, até hoje não tenho razão de queixa em relação a ele.
Que opinião tem em relação a sua contribuição na sociedade?
MN - Penso contribuir dentro das minhas possibilidades. Saiba que Makuta Nkondo só tem o poder de falar e mais nada. Não sou autoridade. As minhas palavras não são vinculativas. Mas penso que estou a fazer o meu trabalho. Alguém mandou-me um SMS para ler na Bíblia, Josué capítulo 1 e Isaías, capitulo 54. Vou ler e meditar. Mas uma sabedoria kikongo diz que “o muntu muenua, kekudimuena ko”. Ninguém pode julgar-se a si próprio. São os outros que devem lhe julgar.
O senhor é Biólogo, Historiador ou Tradicionalista?
MN – Eu sou jornalista de profissão, Biólogo de formação académica e tradicionalista de formação tradicional. Fui submetido desde a infância a uma educação tradicional muito sólida e profunda por parte dos meus avós Nzau a Ntaya e Mpetelo Mbambi. Nzau a Ntaya é um dos maiores Mpovi da etnia Kongo da era contemporânea e Mpetelo Mbambi era autoridade costumeira ou tribal e Mbanda-Banda (Conselheiro) do Rei/Imperador do Kongo. Nas comunidades Kikongo, Makuta Nkondo exerce a função de Mpovi. Eu sou mais homem da cultura bantu de que académico.
O que pensa dar em os 15 meses de representação dos angolanos na casa das leis?
MN – “Muana owutukidi o tumbuluanga” (Só se dá nome a uma criança que nasceu). Contudo, se entrar no Parlamento como deputado, Makuta Nkondo continuará a ser o mesmo e com as mesmas intervenções. Makuta Nkondo vai ao parlamento não para se enriquecer, não é para ter regalias, não para ter muito dinheiro, boas casas, bons carros, bons fatos e viajar pelo mundo, mas sim, eu vou lá para defender o povo genuíno de Angola. Makuta Nkondo continuará a defender os angolanos indígenas, os autóctones, os pés no chão, os pauperados, os donos das terras de Angola, aqueles a que os nossos antepassados de diversas etnias bantu legaram as terras que compõem hoje este território denominado Angola. Makuta Nkondo é filho de Makanda (famílias) camponeses, pobres, é estranho ver um indígena (Makuta Nkondo) de fato bonito no Parlamento. A que servirá Makuta Nkondo andar de carro bonito, fato, gravata e a cheirar perfume Pierre Cardin, quando o povo indígena vive abaixo da miséria? Não e entusiasma, a minha entrada no Parlamento. Juro que nunca abandonarei os meus princípios de defender o povo verdadeiro de Angola. Eu serei o deputado dos pobres, do povo autóctones como eu próprio sou.
Acha que rende mais na sociedade civil ou como deputado?
MN – Esta questão é, constitui a preocupação de quase todo o mundo que me telefona. Há pessoas que desmaiaram ao ouvir que Makuta Nkondo vai ao Parlamento. Há reacções mitigadas. Uns ou melhor a maioria chama-me a atenção dizendo que estou a correr o risco de ser assassinado por envenenamento através do micro do Parlamento ou por outro meio como aconteceu com os deputados Mfulumpinga Nlandu Victor e Ngalangombe da UNITA, outros receiam que o MPLA consiga aliciar-me ou corromper-me. Ainda outros temem que eu abandone o meu programa na Rádio Despertar. Para estes, Makuta Nkondo é o salvador do povo indígena de Angola, o Moisés, Josué ou Jonas da Bíblia. Imploram-me chorando ao telefone dizendo que “vão-te matar, vão-te comprar, vão-te corromper, não deixe a Rádio Despertar senão a rádio cai, etc.” Dizem que os debates da Assembleia Nacional não são transmitidos em directos pela imprensa, e não vão conseguir seguir as intervenções de Makuta Nkondo como deputado. Estes clamores surgem de todas as províncias de Angola, da Europa, Ásia e América. Há quem sugere que o povo vai começar a contribuir em dinheiro para sustentar Makuta Nkondo, para que este não vai ao Parlamento. Se dependesse destes, Makuta Nkondo. Uns organizam festas dizendo que Makuta Nkondo vai lhes defender no Parlamento, outros organizam óbito pela sua “morte”.
Muita gente já entrou na Assembleia Nacional e não houve tanto barulho, agora que é a vez de Makuta Nkondo, é uma confusão total.
Por outro lado, há quem trata de Makuta Nkondo de racista e xenófobo (anti-strangeiros). Estes conhecem-me mal. Nunca fui racista nem xenófobo. Makuta Nkondo defende a verdade. É o princípio mais sagrado de Direito bangu: “Ser amigo da verdade e não da pessoa”. Dizem que o Parlamento vai explodir com Makuta Nkondo, haverá cenas de lutas livres, de pugilato entre os radicais do MPLA e o Makuta Nkondo. É normal que especulem assim, pois “Mbanda azalaka kitoko te” (Um rival nunca é bonito) – diz o Lingala. É irrefutável que o angolano indígena vive na miséria, desempregado e perdeu o poder nas terras dos seus antepassados. Também é irrefutável que os cargos de soberania devem ser ocupados pelos angolanos genuínos, filhos dos indígenas, o que não acontece, etc. Não vale a pena esconder o real. “Não se questiona o sexo de um cão, porque ele anda nu” – diz uma sabedoria kikongo.
Fonte: Angola24horas.
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